Jardins e árvores no espaço público: Preservar ou mutilar e demolir?
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Jardins e árvores no espaço público: Preservar ou mutilar e demolir?

Teve lugar no Porto, a 28 de Janeiro de 2023, um encontro organizado pela Associação Campo Aberto, com sede no Porto, cujos estatutos têm como objectivo debater e promover o exercício da cidadania no domínio do ambiente, sobretudo nas suas dimensões natural, rural e urbana. Pretende ainda suscitar atitudes que visem a diminuição dos impactos negativos da tecnologia e da sociedade, através do estudo e difusão de correntes de pensamento preocupadas com o desenvolvimento sustentável.

No encontro estiveram presentes seis organizações que têm em comum defender jardins, parques ou arvoredo que estava a ser, ou poderia vir a ser destruído, ou não valorizado:

• Campo Aberto, que tentou opor-se à demolição de um jardim contemporâneo que até mesmo a APA - Agência Portuguesa do Ambiente começou por considerar dever ser mantido integralmente, e ameaçado pela obra de uma linha de metro (e totalmente demolido em julho de 2021);

• Paulo Santiago, de Fafe, que tentou dialogar com a câmara local sobre o projecto de abater integralmente um maciço arbóreo num jardim central da cidade, supostamente para o "requalificar";

• O  movimento que procura dialogar com a Metro de modo a evitar que o Jardim da Parada, em Campo de Ourique, um dos raros espaços verdes na zona, sirva de estaleiro para a construção da nova linha de Campo de Ourique;

• O grupo  ClimAção, da região Centro/Coimbra, que se opõe aos abates de árvores já realizados e a outros que estão previstos para a execução do projecto de MetroBus do Mondego;

• A Associação Famalicão em Transição, que recentemente se opôs ao abate de centenas de sobreiros naquele concelho para a implantação de um parque fotovoltaico;

• A Associação Vimaranense de Ecologia, que desde 2015 se opõe a um projeto de abertura de uma via de acesso ao chamado Avepark, que irá destruir uma extensa zona agrícola.

A MINHA PARTICIPAÇÃO

Em face das diversas reacções que surgiram relativamente à ampliação da Linha Vermelha do Metro, nomeadamente a localização da estação e acessos no Bairro de Campo de Ourique, um grupo de fregueses pretende minimizar os impactos do projecto e da obra no Jardim da Parada, tido como coração do bairro e seu único espaço verde, e potencializar as oportunidades que uma intervenção desta envergadura sempre acarreta, promovendo a melhoria da qualidade de vida no bairro, que sofre de problemas crónicos de acessibilidade, mobilidade e de estacionamento.

A ampliação da rede do Metro é fundamental atendendo a que a sua construção propicia menos carros, mais cidade, possibilitando que os moradores se libertarem da dependência do automóvel com todos os benefícios (individuais e globais) que daí advém: redução da emissões de CO2, de partículas nocivas, do congestionamento e do ruído urbano; menos sedentarismo e melhor saúde pública.

Desde logo é importante salientar a relevância do Jardim da Parada. Este é o único espaço verde e de encontro do bairro pelo que é fundamental a sua integral preservação. A sua excelência vai muito além do valor ecológico das espécies ali presentes, é a sombra e o pulmão de Campo de Ourique, albergando espécies de grande valor cuja salvaguarda está prevista no plano da obra, mas pela qual convém zelar durante a sua execução.

As reacções suscitadas pela notícia de ocupação parcial do Jardim da Parada pelo estaleiro tornam claro que os moradores não aceitarão qualquer agressão ao mesmo, quer durante a obra, nem depois aceitarão um arranjo paisagístico que ponha em causa a sua função, o seu tipo de vivência e a sua memória.

Foi elaborada uma Petição Pública, onde se explicitaram as nossas reservas e fundamentam as propostas, e que implicou incrementar uma participação cidadã rigorosa, assente na informação disponível.

Também salientei o facto da Assembleia Municipal de Lisboa ter promovido debates temáticos dedicados à expansão da Linha Vermelha do Metro entre São Sebastião e Alcântara, com novas estações em Amoreiras/Campolide, Campo de Ourique e Infante Santo, e nas sessões públicas abertas à participação de oradores convidados, entidades e do público em geral, estivemos presentes e  aproveitámos a ocasião para apresentar e explicitar os princípios da nossa petição.

Para alem de ter explanado esta situação, aproveitei para perspectivar a sua problemática sob o ponto de vista Decrescentista, destacando os princípios urbanísticos que devem enquadrar qualquer intervenção: cidades menos segmentadas, mais homogéneas e continuas, multifuncionais; satisfação das necessidades quotidianas a uma distância de 15minutos a pé, de bicicleta e/ou de transportes públicos; muito espaço público dedicado aos peões; ruas que não devem ser corredores, mas lugares saudáveis e aprazíveis, incentivando o contacto informal entre as pessoas, proporcionando a mobilidade activa e facilitando as acessibilidades; os espaços verdes que proporcionam a estadia, a pratica de desporto e de exercício físico, a fruição da natureza, em que a água, bem natural, tem de assumir um papel central.

Ainda tecemos breves considerações sobre que é isso de Superquarteirão, enquanto conceito que promove decisivamente a qualidade de vida e do ambiente citadino, nomeadamente transformar ruas de circulação de veículos em passeios, criando-se condições para se andar a pé em segurança, aumentando o espaço público para uso dos peões e a qualidade de vida dos residentes, e contribuindo para que o tráfego circule nas vias de hierarquia principal.

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