Vivemos numa sociedade obcecada com o crescimento: da economia, das empresas, da riqueza, da felicidade. Esse crescimento é equacionado com a noção de progresso e é, alegadamente, o principal garante da prosperidade e do bem-estar das comunidades e dos países. No entanto, apesar da melhoria de alguns indicadores socioeconómicos em alguns países ou em certos sectores das suas populações, essa alegação revela-se falaciosa pois contradiz múltiplas evidências científicas e empíricas. Em primeiro lugar, nada na natureza cresce para sempre (e as sociedades humanas são parte integrante dos ecossistemas naturais); segundo, os recursos materiais e energéticos são finitos e estão a ser esgotados por um metabolismo económico que não é circular e depende do consumo crescente de ambos os tipos de recursos; e terceiro, os impactos nocivos do sistema económico global, quer ambientais (mudança climática, 6ª extinção em massa, destruição de ecossistemas, esgotamento dos solos agrícolas, sobrepesca, desflorestação, etc.), quer sociais (agravamento das desigualdades, da pobreza, da fome e subnutrição, etc.), são já extensos e ameaçam tornar-se irreversíveis.
O movimento internacional do decrescimento agrega as críticas de académicos das áreas da economia ecológica e da ecologia política da 2ª metade do século XX, denunciando a insustentabilidade ambiental e social do actual paradigma civilizacional fundado no crescimento, na acumulação de riqueza, na mercadorização e no desperdício. A incompatibilidade do sistema económico com os limites biofísicos já é conhecida pelo menos desde a publicação do relatório ‘The Limits to Growth’, que em 1972 preconizou que o crescimento exponencial da população, da produção alimentar e industrial, e da poluição, conduziriam ao esgotamento dos recursos materiais e ao declínio abrupto das sociedades industriais na primeira metade do século XXI – conclusões que estão a ser corroboradas pelos dados reais dos últimos 50 anos em que pouco ou nada se fez para reverter aquelas tendências. No actual paradigma é pois impossível dissociar o uso de recursos materiais e energéticos do crescimento económico e o colapso será inevitável. As alegações por parte de sectores do Norte global – os defensores do desenvolvimento sustentável, do crescimento verde, da economia circular – de que a inovação tecnológica e a transição energética permitiriam aquela dissociação são falaciosas porque não levam em consideração o ‘offshoring’ da produção para países do Sul global, com a consequente exportação de emissões, de destruição ambiental e de injustiça social.
O decrescimento propõe a redução equilibrada e democraticamente consensualizada da produção e do consumo nas economias afluentes do Norte global, bem como a relocalização de muitas actividades económicas, que garantam não só a sustentabilidade e regeneração ambientais, como também a recuperação da justiça social a nível global, permitindo aos países do Sul atingir níveis de prosperidade adequados. Para tal, diversos sectores de actividade deverão decrescer: a produção alimentar industrial, o comércio global, as indústrias poluentes, as viagens aéreas, o turismo, a publicidade, a indústria de armamento, os mercados financeiros, etc. Mas muitos outros sectores precisarão de crescer: as redes de apoio social e de cuidados, as práticas agrícolas regenerativas, as actividades culturais e artísticas, etc. A mudança de paradigma proposta pelos decrescentistas requer não só mudanças de estilo de vida e de valores de longo alcance, como reformas sociais e institucionais radicais, que travem a destruição ambiental e permitam a reconstrução do tecido social com base na suficiência, na entreajuda, na autonomia e na convivialidade. Decrescer não é apenas desejável: é urgente e uma questão de sensatez.